Behavior Gap

Este primeiro capítulo traz vários exemplos de como nosso comportamento interfere em nossos resultados. Ainda que a primeira resposta instintiva de todos nós seja “ah, mas não é bem assim comigo”, nós os convidamos a ler e refletir sobre estes pontos de peito aberto.

Do lado da assessoria, todos nós começamos na carreira por gostar de investimentos e mercado financeiro – ninguém entra para essa carreira por amor a psicologia, economia comportamental, etc. A surpresinha que a carreira nos reserva, no entanto, é aos poucos descobrir que essa parte teórica é mera coadjuvante no resultado que conseguimos trazer para os clientes, e que a essência do sucesso no longo prazo é encontrar uma combinação de investimentos que se encaixe aos “gaps comportamentais” de cada um.

Sem exceções, TODOS NÓS, de leigos a profissionais de mercado, sofremos dos mesmos vícios comportamentais. Para nós “profissionais de mercado”, a humildade de reconhecer essa limitação em nós mesmos é INDISPENSÁVEL para que possamos desempenhar nosso papel com maestria com terceiros. Para vocês, clientes, essa jornada de autoconhecimento é opcional – visto que têm a nós como “tradutores” das idiossincrasias de cada um – mas é também o atalho mais claro que conhecemos para melhores resultados e um convívio mais saudável com suas finanças.

Afinal de contas, nos próximos 50 anos a única certeza que temos é que passaremos por dezenas de novas crises, cada uma diferente da anterior. A única coisa que controlaremos nisso tudo, e o único denominador comum que existirá entre todas estas crises, será sempre nosso comportamento.

Que tal perder algum tempo estudando esse “monstrinho” que nos acompanhará pro resto da vida?

O investimento perfeito

Com folga, a pergunta que mais escutamos é “O que tem de bom aí hoje?”.

Pense conosco por um minuto em tudo que pode estar escondido por trás dessa pergunta.

1 – A noção de que existe algo claramente melhor e pior a cada momento

2 – Aquela vontade secreta de receber de resposta uma grande e imperdível oportunidade

3 – O leilão que você próprio faz com seu dinheiro, esperando receber uma pechincha melhor de algum lado

4 – A completa falta de planejamento e coesão da carteira, que a cada mês busca o “melhor ativo da vez” – se você tem um plano, não existe mais “o que tem de bom aí”, apenas existe o próximo passo do plano.

Quando você tem um bom plano, a necessidade de pensar no melhor investimento desaparece.

Veja por este lado: se você planeja ter uma carteira diversificada, alocando 2% de seu patrimônio em 50 ativos diferentes, nem que faça mágica e encontre o “grande investimento” da vez ele fará uma grande diferença na sua carteira sendo apenas 2% do total.

A diligência na implementação do plano é muito mais importante que a escolha do melhor ativo – e não só isso, mas a implementação nós controlamos, o resultado do investimento não.

Como é seu processo de investir? Sempre que sobra dinheiro você o envia para a corretora para ser alocado conforme o plano, ou você pausa e tenta avaliar qual a melhor opção a cada aporte?

Ignore conselhos

Este capítulo é sobre ignorar quase tudo que chega para você a título de previsões, métodos comprovados de investir e etc.

Só existe uma maneira de estar em paz com seus investimentos: fazendo o que serve a seus objetivos, e está dentro da sua tolerância a riscos.

Nem mesmo Warren Buffett, a quem citamos com entusiasmo e frequência, deve ser modelo de como investir. Se ele perde 90% do patrimônio dele, ainda é rico para além da imaginação. Se qualquer um de nós perde o mesmo, está em sérios apuros.

O que tentamos fazer é absorver os conceitos e filosofia que guiam nossas referências, para adaptá-las à nossa realidade. E só. Tem muita sabedoria a absorver de quem investe com sucesso há 80 anos… mas isso é tudo que há ali: sabedoria, e não um guia de 10 passos para investir.

Aliás, talvez sabedoria mesmo seja encontrar a estratégia que funcione para você assim como Buffett encontrou a que funciona para ele.

Life Planning

O termo é quase esotérico né? Planejamento de vida… parece que você vai ler a mão no cartomante ou algo do tipo.

Eis uma provocação: quantas vezes nessa vida, na mesa do bar ou no almoço do escritório, você discutiu com alguém os objetivos de vida que tem, e como seus investimentos vão te ajudar a chegar lá?

E quantas vezes discutiu alguma ação que subiu muito, ouviu o colega falar do quanto rendeu sabe-lá-deus o que ele fez ou do imóvel do primo que valorizou, etc?

É tão simples quanto isso. Nós focamos nas coisas erradas. Nós falamos pouco de objetivos, e muito de retornos incríveis. É lindo sonhar com a megasena a cada esquina da vida, só não dá pra viver no sonho e esquecer da realidade.

A escolha é de cada um: no próximo ciclo de alta da bolsa, onde ganha dinheiro até quem investe de olhos vendados, você pode novamente sentar no bar pra ouvir e se doer de inveja dessas histórias mirabolantes, ou pode ter um plano claro, investimentos que te levam até lá, e apenas contemplar com curiosidade como todos nós, humanos que somos, ainda nos deixamos levar pela promessa de dinheiro fácil mesmo sabendo por reiteradas experiências que o dinheiro fácil não existe.

Muita informação

Em suma, excesso de informação leva a ansiedade, e ansiedade leva a más decisões. Excesso de informação é um dos males da nossa época.

Essa é uma das razões para nós evitarmos escrever para os clientes a cada nova “grande notícia”. É difícil encontrar o equilíbrio entre “estar presente” e “não causar a impressão de que há algo a fazer a cada mês”. Não queremos contribuir com essa sensação de que precisamos estar conectados 100% do tempo monitorando os mercados, quando o segredo do sucesso é exatamente o oposto – manter uma distância saudável dos investimentos e deixar o tempo fazer seu trabalho.

Mas há neste capítulo uma provocação de ordem prática interessante: se você não consegue evitar esse excesso de informação, e sua realidade presente é a de que tudo isto te afeta, o portfólio tem que ser adaptado a esse tipo de entendimento do cliente que vai emergindo com o tempo.

As vezes levamos anos para entender exatamente o perfil de cada cliente. É necessário passar pelos bons e maus momentos para entender como cada um se comporta na prática, e não só na teoria.

Planos são inúteis

Nós amamos este capítulo. Ele é a essência de como enxergamos nosso trabalho.

Precisamos planejar, mas não visando controle total do futuro. Pelo contrário, planejamos apenas para saber em que direção queremos navegar, e para pensar em maneiras de minimizar os impactos que as incertezas do futuro trarão.

Fazemos isso ao diversificar os investimentos.

Fazemos isso ao usar números conservadores nas projeções de patrimônio.

Quanto mais folga temos nos objetivos que traçamos, menos precisamos nos preocupar com pequenos desvios de rota no caminho. Mais tranquilos navegamos. Mais desfrutamos do trajeto.

E com alguma frequência, ou na ocorrência de algum evento cataclísmico, revisitamos os planos.

Sentimentos

Deste capítulo, o mais emblemático é o exemplo da ação que já caiu e você não quer vender até “pelo menos recuperar o prejuízo”.

Quem nunca? Aliás, quem não tem algo assim na carteira ou patrimônio nesse exato momento?

Tirem um minuto para olhar pra essa questão com algum distanciamento… “esperar até recuperar o prejuízo” é uma emoção, não um fato. Esperar é um desejo, um devaneio, um sonhar acordado. E o prejuízo te incomoda, ele significa um erro no passado, uma falha sua, uma má escolha. É naturalmente melhor se você não assumir isso “conscientemente” ao vender abaixo do que comprou, certo?

Nos achamos tão racionais, e as vezes nos pegamos deslizando nas coisas mais elementares!

O único fato que existe é: no preço atual, e nas condições atuais, eu compraria novamente esse papel?

Mas adivinha só: você pode estudar estes casos o quanto quiser. Na próxima vez que tiver algo com prejuízo na carteira, seu primeiro instinto seguirá sendo o de esperar recuperar. Não se trata de mudar quem somos, mas de reconhecer nossos padrões de comportamento para tentar evitar agir no primeiro – e frequentemente errado – impulso.

Bônus: de curiosidade, quando algo não vai tão bem, mas também não está no território do prejuízo, temos mais facilidade para olhar para o ativo e pensar “não deveria vender esse para trocar por esse outro?”. Das loucuras de como funciona nosso cérebro.

Você é responsável por seu comportamento

Este capítulo é essencial na busca por evolução enquanto indivíduos e investidores.

Nós como assessoria começamos neste mercado apontando o dedo a todos – de gerentes de bancos à instituições financeiras – sempre tentando encontrar o culpado pelos absurdos que acontecem com clientes.

Ao longo do tempo, no entanto, nossa opinião mudou… Vejamos, não há pirâmide sem algum investidor ganancioso para fomentá-la. Não há produto complexo e difícil de entender sem algum investidor pedindo por algo “que renda melhor que essa renda fixa mas sem risco”.

Muitos dos males que se abatem sobre o investidor são auto infligidos. O investidor está sempre no comando de seu comportamento, e o que ele colhe muitas vezes é função direta do que demanda. É preciso sentir mais o peso da responsabilidade que carregamos ao tomar decisões financeiras, para que comecemos a tratar estes assuntos com a seriedade e comprometimento que merecem.

Na contramão de tudo isso, quanta gente não investe superficialmente “porque ele é meu amigo de infância”, “porque no banco é mais seguro”, etc. É tratando como simplórias coisas que tem sua complexidade que nos metemos em problemas.

Por fim, o subcapitulo “O mito da assessoria sem viés” é leitura essencial, ainda que bem resumida sobre o tema. Vejam como poucos de nós dedicam tempo a este que é um dos pontos principais na hora de desbravar o mercado financeiro: como são remuneradas as pessoas e instituições que me assessoram, e de que maneira isso impacta o que recebo como sugestões.

Mais uma vez, não é evitando de entender os detalhes que estão em jogo, fingindo que conflitos não existem e fazendo reduções simplórias como “ah mas eu confio em você/ciclano”, que caminharemos na direção de tomar melhores decisões. Precisamos fazer nossa lição de casa.

Falando sobre dinheiro

Dinheiro ainda é tabu infelizmente. Nós nos casamos, juramos uma vida ao lado de outra pessoa, populamos o planeta com pequenos seres de curiosidade infinita, e ainda assim não conseguimos sentar em casa para falar de dinheiro, como cada um tem visões e criações distintas a respeito do tema, e como ele conversa com nossos objetivos. Que dirá explicar aos pequenos seres que raios é essa coisa de dinheiro, e como lidar com ele.

Nós falamos de coisas periféricas a tudo isso: os bens materiais, os investimentos, as viagens, mas dificilmente discutimos o propósito por trás do dinheiro.

Pior, ainda tratamos como se a questão não pertencesse a todos nós. Casais onde um dos cônjuges é o “responsável” pelo dinheiro porque o outro “não entende ou quer entender nada disso”, pessoas que delegam tudo porque “não gostam do assunto”, e etc. Existe um verdadeiro abismo a cobrir nesta seara.

Dinheiro não precisa ser complexo, não precisa ser difícil. Dinheiro não precisa nem ser dinheiro – ele pode ser propósito, objetivos, realizações, coisas que são importantes para você e sua família, e mais ninguém. Oras, todo mundo consegue discutir isso entre taças de vinho, não?

Simples, não fácil

As vezes, quanto mais simples tornamos as alocações e sugestões de investimentos, mais sobrancelhas se levantam. Por alguma razão, as pessoas esperam sofisticação, altos retornos, contato frequente, insights únicos e informações privilegiadas vindo de seus assessores – mesmo sabendo que se tivéssemos tudo isso, com certeza estaríamos usando para ficarmos ricos por conta própria. É a emoção falando mais alto que a razão.

Existe um desapontamento no ar que é quase palpável quando as pessoas entendem que o processo é investir e movimentar o mínimo possível. Então para quê se paga a assessoria ao longo do tempo, pode-se questionar?

Bom, há três racionais há explorar aqui:

1 – este é um daqueles casos em que vale mais saber qual parafuso apertar, do que colocar a casa abaixo pra achar o problema. Seria melhor empenhar mais tempo, correr mais risco e eventualmente ter resultados piores?

2 – A essência da assessoria é outra: ela é monitorar, cuidar, ter certeza de que as coisas seguem dentro do risco que nos propusemos a correr – e enquanto as coisas estiverem em ordem, o trabalho estará sendo feito mas haverá pouca ação a tomar. Se aparecem oportunidades ao longo do tempo, ainda melhor. E por fim, o serviço vai muito além dos investimentos: revisitamos planos e projeções periodicamente, avaliamos maneiras de economizar IR, planejamos sucessão, etc etc etc. Há muitas outras frentes a atacar ao longo do tempo.

3 – Por fim, e esperamos que isso tenha ficado claro ao longo da leitura do livro, a assessoria próxima serve para manter em check as emoções de cada investidor – e todos terão seu momento de vulnerabilidade, basta dar tempo ao tempo. As maiores tacadas que demos nestes 10 anos de atuação são na verdade grandes deslizes que ajudamos clientes a não cometer. São bastante raros estes momentos, mas se a cada 10 anos ajudarmos uma única vez cada cliente a evitar uma presepada que traria grandes prejuízos, já teremos justificado o valor de nosso serviço só aí – todo o resto vira bônus.

Devagar e sempre é o nome do jogo, como tão bem coloca o autor do livro. Não poderíamos achar palavras que descrevessem com mais exatidão nossa filosofia de investir e cuidar do patrimônio de todos vocês.