Comentários dos trechos grifados livro: Quit – Annie Dunker
Capítulo 1: O oposto de uma grande virtude também é uma grande virtude
No mundo dos investimentos o equivalente aos três alpinistas que retornaram do ataque ao cume e de quem ninguém lembra são os investidores que seguem um processo de investimento bem definido, que não gera grandes emoções e nem assunto no almoço da empresa.
Com certeza todos lembram de ouvir alguma grande história de rentabilidade com ações. Agora, e a história de alguém que investe há 10 anos em renda fixa e alguns poucos fundos com consistência… quem quer parar para ouvi-la? Quem se lembra de uma sequer?
Capítulo 1, pg. 15: “Saber quando permanecer, saber quando ceder”: Mas, principalmente, ceder
O poker é talvez o jogo mais parecido com o ato de investir. No poker, a cada nova mão é necessário tomar decisões com base num cenário de informações incompletas – tal como temos que fazer a cada novo investimento.
A beleza é que no poker você convive com o resultado das suas decisões de maneira imediata. A cada 5 minutos, a mão se encerra e se inicia um novo ciclo de tomada de decisões, e você pode interpretar os fatos e calibrar seu processo. Essa repetição de alta frequência é um ótimo treino que jamais será possível nos investimentos, pois na vida real cada decisão as vezes leva anos pra se provar boa ou ruim.
E é por isso que na vida real damos mais ouvidos aos “bons velhinhos” que estão há décadas afiando suas habilidades nessa seara.
O poker é também um ótimo treino de controle emocional – outra habilidade bastante importante no processo de investir.
Mais do que apenas jogar, estudar o jogo de poker (a literatura é vasta) é uma das maneiras de se tornar um melhor investidor – ou um melhor decisor. Mas não se pode esquecer: nem todos ganham na mesa de poker. E talvez um dos maiores aprendizados esteja também em entender que aquilo não é para você sozinho, e que alguma ajuda externa é bem-vinda, talvez até necessária.
Capítulo 2: Desistir na hora certa geralmente parece desistir muito cedo
É aqui onde a brincadeira de “tomar boas decisões” se torna altamente granular, altamente dependente das micro-realidades de cada um de nós.
Quando pensamos apenas em dinheiro e cenários esperados, é mais “fácil” chegar na melhor decisão. Na decisão de maior valor financeiro esperado.
Mas quando precisamos colocar na mesma equação outros fatores como tolerância a risco, saúde mental, tempo economizado, sensação de bem estar, etc…. é aí onde entra o trabalho mais difícil e artesanal de moldar cada decisão à realidade única de cada cliente.
Capítulo 2, pg. 27: Pensando no valor esperado
E se disséssemos que isso já faz parte da vida de vocês há muito tempo, sem ninguém saber?
Essa ferramenta – ou modo de pensar – está presente na carteira de todos vocês desde que a RN iniciou suas atividades em 2013, silenciosamente guiando nosso processo de análise de cada investimento.
É por pensarmos assim na hora de escolher “as mãos que queremos jogar” que conseguimos construir resultados bem acima da média dos mercados, especialmente nos últimos 5 anos de altíssima incerteza econômica.
Das ferramentas a que o poker nos apresenta, essa talvez seja a mais importante e impactante delas. Para quem tiver interesse, o livro “Thinking in bets” (Pensando em apostas) da mesma autora, entra mais no assunto.
Capítulo 3: Devo ficar ou devo ir
O primeiro parágrafo grifado exemplifica muito bem o fenômeno que acontece quando os investidores carregam posições no prejuízo. A relutância em se desfazer de posições ruins apenas porque estão no prejuízo nada mais é do que a convocação da “sorte” para o processo: vamos “torcer” para que recupere, mesmo que isso signifique uma decisão de valor esperado negativo.
Curiosidade: isso vale muito mais para posições escolhidas pelo próprio investidor. Quando somos nós que sugerimos algo que vai mal, a objeção a vender e realizar um prejuízo é praticamente inexistente.
Como vocês verão ao longo do livro, isso tem a ver com outro viés cognitivo que é o efeito de Dotação (página 127), que consiste em uma preocupação maior em perder algo que já possuímos do que ansiosos em adquirir algo idêntico que não possímos.
Capítulo 4: Escalada de Compromisso
A essência de todas as leituras sobre vieses cognitivos é esta: entendermos que há processos que estão além do nosso controle, por mais racionais que nos consideremos.
E por mais que estudemos o assunto, ainda assim nossa sina é repetir os mesmos erros. Um gap cognitivo é um “defeito de fabricação” do nosso cérebro. Saber que ele existe não significa que haja conserto para tal.
Mais que isso: momentos de tomada de decisão não são momentos de calmaria como a leitura de um livro. Normalmente, são momentos de instabilidade emocional, incerteza, stress, pressão… todos fatores que nos colocam numa situação de maior vulnerabilidade e menor auto-controle.
Capítulo 5, pg. 89: A diferença entre Saber e Fazer
Se o exemplo de Jeffrey Rubin não nos convencer de que temos um problema, nada mais o fará. Mesmo que tenhamos consciência de nossos vieses e gaps cognitivos, isso não é necessariamente suficiente para que consigamos evita-los.
A questão que se coloca, então, é: o que fazer?
Capítulo 6, pg. 108: Melhor, não perfeito
Neste parágrafo, Annie Duke faz alusão a outro conceito importantíssimo de poker que serve para nossa vida pessoal e de investimentos: não se trata de ser perfeito o tempo todo, mas sim de evitarmos nos colocar em situações em que o valor esperado é negativo.
Noutras palavras, o importante é conseguirmos tomar boas decisões com consistência, independente de seus resultados. Decisões com valor esperado positivo.
Tudo que controlamos são as decisões. Os resultados estão nas mãos do baralho – ou no nosso caso, nas mãos do mercado.
Capítulo 7: Você possui o que comprou e o que pensou: Dotação e o viés do Status Quo
Esta é uma comparação bastante reveladora. Se mesmo no mundo dos esportes de alta performance – onde uma infinidade de dados está disponível e o objetivo é sempre maximizar ao máximo os resultados – os vieses impedem os atores de tomarem as “melhores decisões”, que chance teremos nós reles mortais na mesma tarefa?
Na NBA foram mais de 20 anos até que o óbvio mostrado pelos números superasse nossos gaps cognitivos…
E a frase de Keynes também reflete algo muito frequente no mercado financeiro – o comportamento de manada. Inconscientemente, é melhor errar junto com todos do que acertar sozinho – e isto ocorre pelo exato processo que a autora descreve na sequência: ir com a manada não é uma decisão ativa para nosso cérebro, e portanto associamos menos culpa a esta linha de atuação.
Capítulo 7, pg. 129: Times esportivos profissionais e seu crescente compromisso com as escolhas mais altas do Draft
Novamente, tentem imaginar como esse fenômeno se manifesta no universo dos investimentos.
Capítulo 8: A coisa mais difícil de desistir é de quem você é: Identidade e Dissonância
Aqui é que a coisa começa a ficar fascinante: mudar é uma afronta à nossa visão de nós mesmos. E o que a autora ilustra de maneira muito legal através de exemplos é que, de certa forma, somos todos “fanáticos” por nossa imagem – de maneira similar aos fanáticos do culto.
Capítulo 9: Encontre alguém que ame você, mas que não se importe em ferir seus sentimentos
Este é outro exemplo emblemático: se até o nobel de economia tem um “treinador de desistência”,quem somos nós para querermos resolver tudo sozinhos?
O exemplo no fim do capítulo é também bastante revelador: se já tivemos vontade de assumir o comando ou decidir por outra pessoa em algum momento, isso significa que achamos que tendo a visão de fora somos mais capazes de ver com clareza a situação em que a pessoa se encontra.
E por essa mesma premissa, com certeza em alguém momento haverá um terceiro mais capaz de decidir por nós do que nós mesmos.
Interlúdio 3 (entre Partes 3 e 4): As formigas marcham… Na maioria das vezes
Este é um dos nossos dilemas enquanto investidores: até onde seguir buscando novidades e oportunidades, e até onde investir tempo no que já funciona?
Nosso palpite e experiência é que, no geral, os investidores são mais inquietos do que o necessário. Há duas razões principais para tal:
– o constante fluxo de informações, que gera a falsa sensação de que deveríamos estar fazendo algo com tudo que é veiculado;
– a falta de clareza de objetivos. O famoso “Para quem não tem destino, qualquer caminho serve”
Capítulo 11: A miopia das metas
Esta é a essência de todo nosso esforço enquanto assessoria: tentar sistematicamente maximizar o valor esperado das decisões que tomamos ao longo do tempo. Vamos acertar e errar no trajeto, mas o importante – e a única coisa que controlamos – é tentar tomar boas decisões com constância.
Se enxergarmos o processo de construção patrimonial como algo de longo prazo, isso nos liberta das minúcias do dia a dia e nos permite focar no único aspecto macro que vai reger nosso resultado:
Boas decisões.
Decisões de valor esperado positivo.
É isso que temos que perseguir. É isso que queremos repetir no tempo. É isso que temos que usar como balizador do nosso sucesso, e não os resultados de curto prazo.
Boas decisões por vezes vão gerar maus resultados. Mas no longo prazo, vão gerar mais bons resultados do que maus.
Este é o valor esperado positivo.
Isso é tudo que precisamos perseguir. Os resultados virão como consequência.
Boas decisões… e só.