O resumo da ópera…
O cenário macroeconômico global continua altamente incerto.
O cenário político local continua altamente incerto.
Os desdobramentos da injeção infinita de liquidez nos mercados ainda são incertos.
O cenário de pandemia começa a normalizar nos países ricos com a vacinação, mas o risco de novas cepas segue vivo e é o pesadelo de todas as profissões, do economista ao sanitarista.
Os impactos da pandemia na economia real pós-abertura são incertos, mas alguns choques já começam a ser sentidos. Falta de chips, falta de insumos básicos para indústria, inflação nos EUA começando a dar as caras, etc.
Alguém teve crescimento de renda ou patrimônio na velocidade dos quase 40% do IGPM no ano passado? Enriquecemos como país algo perto disso? Nossa indústria se desenvolveu nessa velocidade? O que isso vai significar na prática daqui para frente?
Serão os impactos pontuais e passageiros, ou estaremos entrando num ciclo mais longo de desarranjos?
Sempre entre a bola de cristal e o retrovisor…
Dentro de 6 a 12 meses, pode ser que a pandemia seja página virada, e vai parecer “óbvio” que as coisas estavam se resolvendo. Quem apostar nisso pode ter ótimos resultados.
Dentro de 6 a 12 meses, pode ser que a inflação não venha e a economia se normalize. Vai parecer “óbvio” que era apenas um choque pontual. Quem apostar nisso pode ter ótimos resultados.
Dentro de 12 a 24 meses, o cenário eleitoral e político pode clarear e boa parte dos riscos se dissiparem. Vai parecer “óbvio” que nunca teríamos uma ruptura institucional. Quem apostar nisso pode ter ótimos resultados.
Só há um pequeníssimo detalhe. Quem apostar em qualquer um desses cenários e errar também pode sofrer bastante.
E o nosso negócio não é o de apostar com o patrimônio dos clientes. Nosso negócio é o de preservar o patrimônio dos clientes, muito antes de escolher quais riscos valem a pena correr para buscar mais retorno.
Temos 30, 40, 50 anos pela frente para investir, e assumir uma postura mais cautelosa durante 1 ou 2 anos certamente não é o que definirá o sucesso ou insucesso dessa trajetória.
Nossa visão…
Continuamos achando o balanço de riscos atual dificílimo de interpretar, e portanto continuamos sugerindo uma postura mais agnóstica nas carteiras.
Agnóstico não significa conservador, moderado ou agressivo. Agnóstico é o investidor que não sabe se o futuro é positivo ou negativo, e se adapta de acordo com a falta de visibilidade. Mais importante, a única informação concreta que o agnóstico tem, e na qual ele confia, é a própria falta de visibilidade.
Se falta de visibilidade é a única certeza que temos, tentamos adaptar o nosso perfil a isto. É possível ser um investidor conservador agnóstico, bem como um investidor agressivo agnóstico.
O primeiro ajuste: evitar grandes concentrações de patrimônio.
O segundo: buscar várias maneiras diferentes de correr riscos de mesma magnitude. Se possível, buscar várias geografias diferentes onde correr estes riscos.
O terceiro: evitar papéis de longuíssima duração em favor de vencimentos mais curtos.
Um ou dois exemplos?
O conservador está investido em títulos do tesouro atrelados à inflação com vencimento em 2050. O conservador agnóstico troca parte de sua posição pelos mesmos títulos, porém de vencimentos mais curtos.
O agressivo vai concentrar 30% da sua carteira em fundos de ações brasileiros se achar que o Brasil vai melhorar.
O agressivo agnóstico vai alocar estes mesmos 30% pulverizados entre fundos de ações brasileiros, americanos, europeus, asiáticos, sem fazer juízo de valor sobre qual mercado será mais promissor. Vai eventualmente buscar até outros ativos além de ações para compor esta fração de alto risco da carteira, mesmo sem ter grandes convicções acerca do desempenho individual de cada ativo.
Na prática?
A internacionalização de parte dos portfólios é a expressão mais clara deste movimento, e segue em curso. Não diminuímos necessariamente o grau de risco das carteiras, mas qualificamos melhor nossa exposição.
Também temos evitado quase que por completo títulos com vencimento muito acima de 6-7 anos, com raras exceções.
Para concluir…
“Estar” agnóstico é aplicar a diversificação em cima da diversificação, é duvidar das próprias convicções, e de quebra ainda andar desconfiado da própria sombra. O agnóstico não quer pagar para ver, prefere dormir tranquilo e não quer ter que reavaliar o rumo dos mercados todo santo dia.
Dá mais trabalho ser agnóstico na implementação e escolha do portfólio, mas dá muito menos trabalho no acompanhamento.
Usando outro ponto de referência: de 2013 a 2015 estivemos pessimistas com o Brasil. De 2016 a 2020 estivemos otimistas (transitando para cautelosamente otimistas ao fim de 2019/início de 2020). Hoje estamos agnósticos.
Nos parece que a presente conjuntura é mais um momento de atravessarmos ilesos a turbulência, em que pese abrirmos mão de algum retorno potencial. O horizonte que temos de possibilidades e tempo é vasto após a turbulência, e é preciso primeiro estarmos seguros de que o pior realmente já passou.
…
Isto tudo não significa que inexistam razões ou visões de mundo que sustentem a adoção de uma postura mais direcional agressiva ou conservadora. Estamos meramente compartilhando nossas impressões, resultantes de tudo que consumimos de informação, e visando ajudá-los a formar uma visão de como querem se posicionar.
Nossa arte é auxiliar na implementação das visões individuais que porventura queiram perseguir, levantando pontos de vista contraditórios ou complementares, e colaborando na seleção de ativos que representem estas visões da forma mais inteligente possível.
Como sempre, estamos a disposição para dúvidas e esclarecimentos!
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